Recensão crítica filme national geographic Dino Deathpits
Ficha técnica:
Título em Português: Dinossauros: Armadilha Mortal
Título Original: Dino DeadTraps
Produtora: National geographic
Distribuidora em Portugal: Lusomundo
Ano: 2008
Tipologia: documentário vídeo (DVD)
Tempo aproximado: 50 minutos
Recensão
O documentário da National Geographic “Dinossauros: Armadilha Mortal” aborda a paleontologia de dinossauros, nomeadamente uma jazida Jurássica com vários predadores descoberta na China, em Xinjiang.
O assunto é tão interessante quão bizarro e inusitado. Como é possível haver um poço de predadores, empilhados estratigraficamente? Quais as explicações para esta tafonomia única? Tratam-se de três poços com, pelo menos, 18 esqueletos de três espécies de dinossauros carnívoros do Jurássico.
A melhor faceta deste deste documentário é que é baseado em ciência de elevada qualidade, feita por alguns dos paleontólogos de dinossauros mais qualificados da actualidade: David Eberth, Xu Xing e James Clark (com índices h a variar entre os 21 e 32) que têm dedicado muito da sua carreira ao estudo dos dinossauros da China e Gobi (ver, por exemplo, Eberth et al., 2009, no qual participo em co-autoria). O documentário mostra com exactidão e rigor, o modus operandi da ciência e da paleontologia, ao seguir, de forma detectivesca os passos, experiência e argumentos que permitem deduzir conclusões científicas.
Os fósseis que resultaram da descoberta são extraordinários, e incluem dois holótipos de dinossauros terópodes: Limusaurus inextricabilis, um ceratossauro herbívoro com gastrólitos, e Guanlong wucaii um dos primeitos tirannosaurídeos. Ambas as descobertas foram alvo de artigos na prestigiada revista Nature (Xu et al, 2006, 2009).
O formato, é contudo, demasiado sensacionalista, bem ao estilo norte-americano. Abundam, de forma exagerada, os termos dramáticos e humanizados, como “aterradores”, “pérfidos”, “homicídio”, “massacre”, “agonizantes espasmos da morte”, “convulsão da morte”, etc. Este tipo de abordagem além de ser exagerada, é sobretudo aplicável a contextos humanos, pelo que é descabido num documentário como este. Estes comentários retiram seriedade científica que um documentário desta natureza devia ter.
Outros termos mal empregues são o resultado de más traduções ou do uso de português do Brasil: “evolucionário” em vez de evolutivo, “Triássico” em vez de Triásico.
Estudos recentes (Eberth et al., 2010), não incorporados do documentário, mostram que estes poços que se transformaram em armadilhas foram pegadas de dinossauros saurópodes preenchidos com sedimentos liquefeitos que aprisionaram animais de pequeno/médio porte, que neste caso eram dinossauros carnívoros.
Xu, X., J. M Clark, C. A Forster, M. A Norell, G. M Erickson, D. A Eberth, C. Jia, e Q. Zhao. 2006. A basal tyrannosauroid dinosaur from the Late Jurassic of China. Nature 439, n. 7077: 715–718.
Eberth, D A, Y. Kobayashi, Y -N Lee, O. Mateus, F. Therrien, D K Zelenitsky, e M A Norell. 2009. Assignment of Yamaceratops dorngobiensis and Associated Redbeds at Shine Us Khudag (Eastern Gobi, Dorngobi Province, Mongolia) to the Redescribed Javkhlant Formation (Upper Cretaceous). Journal of Vertebrate Paleontology 29, n. 1 (Março): 295–302,
Eberth, D. A, X. Xing, e J. M Clark. 2010. Dinosaur death pits from the Jurassic of China. Palaios 25, n. 2: 112.
Xu, X., J. M Clark, J. Mo, J. Choiniere, C. A Forster, G. M Erickson, D. W.E Hone, et al. 2009. A Jurassic ceratosaur from China helps clarify avian digital homologies. Nature 459, n. 7249: 940–944.
2182-0155
Sociedade Geológica de Portugal